O Brasil ocupa a sexta colocação em um ranking de 57 países em que fazer o transporte de carga é mais arriscado, segundo pesquisa realizada este ano pelo comitê de transporte de cargas do Reino Unido – o Join Cargo Committee. O país só perde para regiões conflagradas e em guerra, como Síria, Líbia, Iêmen, Afeganistão e Sudão do Sul.
Os dados foram apresentados durante seminário “Ilegal, e daí?”, realizado pelo jornal O Globo, em parceira com Extra, “Valor Econômico” e revista “Época”. Para o procurador do Ministério Público Federal José Maria de Castro Panoeiro, as quadrilhas de roubo de carga e contrabando estão estruturadas em cadeias de distribuição, que financiam grupos, organizados como empresas.
“Essa estrutura funciona como se fosse uma empresa. Em geral, ataca-se a ponta, mas isso não resolve o problema porque você prende um receptador que é só uma peça na engrenagem. Você tem que desmontar a máquina, mas precisa de um trabalho de investigação. Hoje, em 90% dos casos, processo criminal é de prisão em flagrante, não tem trabalho investigativo”, observa Panoeiro
No varejo, o roubo e o contrabando de produtos têm elevado os custos das empresas e aumentado o preço cobrado ao consumidor, ou ainda tem levado ao desabastecimento de algumas áreas da cidade do Rio. Com seu principal centro de distribuição localizado em uma área conflagrada da Zona Norte, o grupo chileno Cencosud, que opera o supermercado Prezunic, calcula um aumento de 400% no número de ataques aos caminhões transportadores de alimentos e produtos, no ano passado.
– Montamos um comitê de crise de prevenção de perdas para coibir o roubo de cargas. Em duas horas, o veículo é abordado e esvaziado para depois ser comercializado em feirões livres. Isso leva ao aumento do custo do frete, necessidade de implementar a segurança privada, mudar janelas de entrega, sistema de comboios de veículos, alteração de rotas. E parte da população opta por comprar produtos mais baratos no mercado ilegal – alerta Marco Aurélio Prometti, diretor do Prezunic.
O procurador do Ministério Público Federal José Maria de Castro Panoeiro defendeu a responsabilidade coletiva na compra de produtos roubados e contrabandeados:
“É reponsabilidade de quem compra e, por isso, é preciso difundir uma cultura da noção de coletivo. Cada um pensa em si, somos individualistas, mas por trás do mercado ilegal está a eliminação do mercado legal”, ressalta Panoeiro.
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